Descoberta Arqueológica: A Estrutura Pré-Histórica de Ossos de Mamute
Há cerca de 25.000 anos, durante o auge da Idade do Gelo, um grupo de caçadores-coletores na área que atualmente é a Rússia deu início a um projeto arquitetônico surpreendente. Eles construíram uma estrutura circular de 12 metros de diâmetro, utilizando ossos de mais de 60 mamutes lanudos.
Localizado aproximadamente 480 quilômetros ao sul de Moscou, o sítio arqueológico chamado Kostenki 11 tem desafiado especialistas por décadas. A disposição e a quantidade dos ossos, assim como a finalidade da edificação, geraram várias hipóteses. Estudos recentes, baseados em análises de DNA e datação por radiocarbono, trouxeram novos elementos para desvendar este enigma pré-histórico.
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Um Achado Monumental
Descoberto em 1951, o sítio Kostenki 11 revelou sua estrutura mais complexa em 2014: um círculo de 12 metros de diâmetro composto por aproximadamente 2.982 ossos de ao menos 64 mamutes. Esses restos estavam organizados de forma deliberada, acompanhados de madeira carbonizada, ossos queimados e restos vegetais, incluindo plantas semelhantes a batatas, cenouras e chirivias.
Este sítio é parte de um grupo de cerca de 70 estruturas de ossos de mamute na Europa Oriental, mas a de Kostenki 11 se destaca por sua antiguidade e dimensões. Embora a razão pela qual essas comunidades pré-históricas construíram estruturas com ossos de mamute seja incerta, o tamanho da construção sugere que ela pode ter tido uma função além de abrigo.
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Avanços nas Pesquisas: DNA e Comportamento de Caça
Com os avanços em técnicas de análise genética e datação, os cientistas investigaram a origem e as características dos ossos encontrados em Kostenki 11 com mais precisão. Um estudo recente, publicado na revista Quaternary Environments and Humans, analisou 39 amostras de ossos, revelando informações valiosas sobre a procedência dos restos e o comportamento dos humanos que os coletaram.
Uma descoberta significativa foi a predominância de fêmeas e filhotes entre os ossos. Dos 30 indivíduos analisados, 17 eram fêmeas e 13 machos, sugerindo que os caçadores-coletores interagiam com manadas inteiras. Considerando que os mamutes viviam em grupos liderados por fêmeas, os pesquisadores indicam que os humanos caçavam em áreas onde os mamutes se reuniam.
Outro achado importante foi a variação na idade dos ossos. Alguns restos analisados eram centenas de anos mais antigos do que outros no mesmo local, indicando que os construtores de Kostenki 11 não apenas caçavam mamutes vivos, mas também recolhiam ossos de animais mortos há algum tempo, possivelmente de depósitos naturais conhecidos como leitos de ossos.
“Não temos evidências de que os humanos caçaram diretamente os mamutes. Acreditamos que eles foram encontrados em leitos de ossos naturais e transportados para o sítio”, afirmou Eline D. Lorenzen, ecóloga molecular da Universidade de Copenhague.
O Mistério do Propósito do Sítio
O propósito da estrutura de Kostenki 11 permanece um mistério, mas várias hipóteses foram levantadas:
- Refúgio ou moradia: A teoria inicial sugere que a estrutura poderia ter servido como abrigo temporário nas duras condições climáticas da Idade do Gelo. No entanto, o tamanho da construção e a falta de vestígios de telhados tornam essa explicação improvável.
- Centro de processamento e armazenamento de alimentos: Outra hipótese é que o local teria sido usado para processar e armazenar carne de mamute no permafrost ao redor.
- Espaço cerimonial ou ritualístico: Alguns pesquisadores sugerem que o local poderia ter um significado simbólico ou ritualístico.
- Ponto de encontro ou acampamento sazonal: Sugere-se que a estrutura poderia ter sido um local de reunião para grupos nômades.
Um Legado de Sobrevivência na Idade do Gelo
A descoberta e análise de Kostenki 11 permitiram que arqueólogos compreendessem melhor a vida dos caçadores-coletores da Idade do Gelo. Em um ambiente marcado por condições extremas, esses grupos humanos demonstraram uma notável capacidade de adaptação ao aproveitar os recursos disponíveis.
Alexander Pryor, arqueólogo da Universidade de Exeter, destacou que o sítio Kostenki 11 “está oferecendo uma visão real de como nossos ancestrais humanos se adaptaram às mudanças climáticas e utilizaram os materiais ao seu redor”.
Embora os avanços científicos tenham trazido novos insights, o enigma de Kostenki 11 ainda não está totalmente resolvido. Cada novo estudo nos aproxima mais de entender a história por trás deste extraordinário sítio arqueológico, cujo legado continua a surpreender a comunidade científica e o mundo inteiro.