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Jovens da zona sul de São Paulo lançam coleções e destacam o poder da moda nas periferias

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Transformando Sonhos em Realidade na Moda Periférica

A capacidade de transformar sonhos em realidade é uma responsabilidade significativa. Trabalhar esses sonhos com a esperança de um futuro mais diverso no mundo da moda é o que impulsiona Jaque Loyal, 27.

“Quando a gente se coloca, é isso que acontece. É uma peça do dominó que caiu e está impactando todo o entorno”, afirma ela. Os resultados desse impacto no trabalho da estilista, residente do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, são visíveis desde sua adolescência na região.

Com apenas 16 anos, Jaque abriu um brechó com um amigo e começou sua jornada no mundo da moda ao criar a marca Loyal. Ao longo de mais de uma década, o projeto cresceu, reunindo diversas linguagens de moda periférica e se tornando uma ferramenta de empoderamento na comunidade.

Jaque Loyal, supervisora do Núcleo e Estilista referência em Moda Periférica @Daniel Santana/Agência Mural

Além da Loyal, Jaque atua como supervisora do Núcleo de Moda da Fábrica de Cultura do Jardim São Luís. Sob sua orientação, 26 aprendizes evoluíram nos últimos dois anos.

Por meio de várias atividades, como oficinas e projetos, o grupo explorou a criatividade durante o curso. No total, desenvolveram quatro desfiles, que impactaram quase 800 pessoas, além de criar três coleções colaborativas focadas na construção de uma moda periférica brasileira.

Em novembro de 2024, as aprendizes, majoritariamente pessoas não brancas e LGBTQIAPN+, apresentaram suas criações finais.

Kitty desfilando com uma de suas peças, criada para o Desfile Final do Núcleo @Daniel Santana/Agência Mural

Uma das participantes, Kitty Oliveira, 26, compartilhou como o Núcleo transformou sua relação com a moda. Antes de conhecer o projeto de Jaque e um curso de Teatro da Fábrica, ela teve pouco contato com o setor, mas rapidamente viu sua paixão florescer.

“O espetáculo tinha uma trilha curta de figurino, e aí me interessei pela área e comecei a estudar. Sempre gostei de desenhar e criar, então tudo foi se somando. Se for para fazer algo, quero costurar e desenhar roupas”, conta Kitty.

Para concluir o curso, ela criou peças inspiradas na cultura japonesa para expressar sua luta contra a depressão e seu processo de cura. “Não faço para vender ou agradar alguém. Tento transmitir o que passei e senti por meio dos figurinos”, explica.

Outra aprendiz impactada foi Isa Iwanaga, 22. “Ver as pessoas da quebrada, da rua de cima de onde você mora, criando juntas, tendo essa oportunidade, é sensacional”, destaca ela.

Isa Iwanaga, diz que o projeto fortaleceu muito a coletividade e o senso de comunidade entre os participantes @Daniel Santana/Agência Mural

A coletividade e o senso de comunidade foram pontos fortes do curso. Isa enfatiza que projetos como esse, realizados nas periferias, valorizam o talento de jovens que desejam trabalhar com moda. “Temos muita coisa bonita para mostrar, mas, às vezes, faltam acesso, informação e apoio”, reflete.

Juliana Rodrigues, 29, também aluna do projeto, reforça a importância de iniciativas de moda nas periferias, onde a arte é frequentemente marginalizada.

‘A moda começa na periferia. Muitas vezes, nosso crédito é roubado porque estamos aqui. Mostrar isso para o público é provar que temos potencial, estamos prontos e temos talento’

Juliana, aluna do projeto

Tatuadora, Juliana incorporou sua paixão pela arte na pele na coleção final. As peças fazem referência a tatuagens de países africanos e pinturas do hinduísmo. “Sempre quis fazer moda, e viver isso foi magnífico. Quis criar peças que eu usaria, mostrando que nossas artes têm valor.”

Juliana, sonha em trabalhar no mundo da moda, vê a oportunidade como uma grande porta que se abre. @Daniel Santana/Agência Mural

Jaque destaca a necessidade de mais políticas públicas para potencializar jovens estilistas das periferias. Atualmente, o Núcleo de Moda é gerido pela Poiesis, em parceria com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.

‘É preciso fomentar a moda não só como expressão criativa, mas também como empreendedorismo e moda circular, para que ela não seja apenas um sonho, mas uma carreira e um meio de crescimento financeiro’

Jaque, estilista

Consultamos as páginas da Alesp (Assembleia Legislativa) e da Câmara Municipal de São Paulo para verificar projetos ligados à moda periférica nos mandatos recentes de deputados estaduais (2023-atualmente) e vereadores (2021-2024). Nenhum projeto de lei sobre o tema foi debatido nesses períodos.

Ainda no primeiro trimestre de 2025, o Núcleo deve abrir novas vagas. Nas palavras de Jaque, a estrutura disponível na zona sul já é um passo fundamental para o futuro: “Temos equipamentos, máquinas e materiais. O que falta é mais fomento, acessibilidade e viabilização. Os aprendizes da quebrada já são criativos, e com o apoio certo, eles vão longe.”

Fonte: https://agenciamural.org.br/moda-nas-periferias-jovens-zona-sul-de-sp/

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