DeepSeek: Plataforma Chinesa de Inteligência Artificial Sob Vigilância
A plataforma chinesa de inteligência artificial generativa conhecida como DeepSeek, que recentemente ganhou destaque, está sendo minuciosamente analisada devido a preocupações com suas falhas de segurança e o tratamento de dados dos usuários. De acordo com uma investigação conduzida pela WIRED, especialistas em cibersegurança da empresa Wiz descobriram um banco de dados acessível na internet, contendo mais de um milhão de registros, incluindo dados de usuários e chaves de autenticação de API.
O diretor de tecnologia da Wiz, Ami Luttwak, afirmou: “O nível de acesso que tivemos foi extremamente alto para um erro tão básico”, destacando que a exposição de informações sensíveis indica uma falta de maturidade da DeepSeek na gestão de dados confidenciais. Os pesquisadores observaram que o banco de dados utilizava a tecnologia ClickHouse, comum em análises de servidores, e armazenava desde interações de usuários até caminhos internos do sistema. Embora o problema tenha sido resolvido em menos de 30 minutos após o contato da Wiz com a empresa, não se sabe se agentes mal-intencionados já tinham acessado as informações antes da correção.
Preocupações Globais com Segurança e Privacidade
A DeepSeek tem sido comparada ao ChatGPT, da OpenAI, o que pode facilitar a adesão de novos usuários à sua interface. No entanto, especialistas afirmam que sua vulnerabilidade foi “particularmente fácil de detectar”, segundo Nir Ohfeld, chefe de pesquisa de vulnerabilidades na Wiz.
O rápido crescimento da DeepSeek também tem impactado o mercado global de inteligência artificial. Conforme reportado pelo Financial Times, a OpenAI estaria investigando se a plataforma chinesa utilizou respostas do ChatGPT para treinar seus modelos. Além disso, a Marinha dos Estados Unidos emitiu um alerta ao seu pessoal, proibindo o uso da DeepSeek devido a “riscos potenciais de segurança e ética”, conforme reportado pela CNBC.
Na Europa, o regulador de proteção de dados da Itália questionou a DeepSeek sobre a origem dos dados de treinamento e possíveis violações legais no uso de informações pessoais. Pouco depois, o aplicativo foi removido do país, de acordo com a WIRED Itália.
Além disso, Sean O’Brien, fundador do Laboratório de Privacidade da Faculdade de Direito de Yale, revelou outra preocupação: “DeepSeek está enviando dados básicos de rede e perfis de dispositivos para a ByteDance, dona do TikTok, e seus intermediários”. Isso reforça temores sobre o compartilhamento massivo de dados de usuários internacionais com a China, o que pode levar a novas restrições regulatórias.
Falta de Transparência no Tratamento de Dados
A WIRED destacou que a DeepSeek coleta informações como conversas, histórico de navegação, e-mails, números de telefone, endereços IP e dados de cookies. A política de privacidade da plataforma afirma que os dados são armazenados em servidores na China, podendo ser acessados pelo governo conforme exigido por leis locais.
O analista de privacidade Bart Willemsen comentou que muitos usuários não têm total compreensão sobre como essas plataformas operam e quais dados utilizam para treinamento. Além disso, há receios sobre possíveis influências ideológicas nos conteúdos gerados, especialmente porque a IA interage diretamente com os usuários.
Outro ponto controverso é a censura. Relatos indicam que a DeepSeek não responde perguntas sobre temas sensíveis, como o massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, alinhando suas respostas às narrativas do governo chinês. Esse aspecto reaquece o debate sobre o uso ético dos dados por empresas chinesas de tecnologia.
Regulamentação e Desafios Futuros
O caso da DeepSeek levanta um alerta maior sobre vulnerabilidades em tecnologias emergentes e suas implicações geopolíticas. O pesquisador Lukasz Olejnik, do King’s College London, afirmou à WIRED que é possível que governos adotem restrições semelhantes às impostas ao TikTok, prevendo que “ações diretas contra empresas de IA não podem ser descartadas nos próximos anos”.
Apesar das polêmicas, a DeepSeek continua a crescer rapidamente, liderando os rankings de downloads na App Store e na Google Play, segundo a WIRED. No entanto, especialistas como John Scott-Railton, do Citizen Lab da Universidade de Toronto, alertam: “Os usuários precisam lembrar que, ao interagir com essas plataformas, estão trabalhando para as empresas – e não o contrário”.
Enquanto a DeepSeek segue conquistando milhões de usuários ao redor do mundo, seu futuro permanece incerto, marcado por desafios regulatórios e riscos tecnológicos. Como destacou Nir Ohfeld, “a inteligência artificial é a nova fronteira da tecnologia e da cibersegurança, mas ainda estamos vendo as mesmas falhas antigas, como bancos de dados expostos ao público”.